ILUSÃO, SONHO E REALIDADE


Cinco e meia da manhã. Estava diante de um profundo discurso sobre o tema “ilusão, sonho e realidade”, algo muito interessante e recortado de múltiplas percepções. Uma verdadeira comunicação que se expande para a consciência. Ouvi a perspectiva singular de que ilusão é o que você projeta para se materializar no mundo, de que a realidade invisível sobrepõe a realidade visível, e de que as coisas não existem, por isso, a afirmativa de que tudo é uma ilusão. 

Respeito a expressão subjetiva do outro, pois compreendo a singularidade e a alteridade. Por isso, busco traduzir o sentido do que ouço para aproximar-me do interlocutor, para compreender seu mundo de significados. E o som da palavra ilusão tem para mim outro colorido, como a capacidade de sonhar, uma outra forma de contextualizar o sentido atribuído a palavra. 

É fato que não resisto a me deliciar com a busca de outros sentidos para esta e outras palavras. Amo as letras e sua teia de relações! Pesquisei no Dicionário da Língua Portuguesa, o significado para o conceito ilusão. Pois bem, aqui esta: Ilusão: 1. Acto de ver o que não existe: uma ilusão de ótica. 2. Ideia ou crença falsa: ter ilusões sobre uma pessoa. Claro que estas linhas do dicionário são bem resumidas e a graça de quem navega pelo oceano das letras é exatamente dar o colorido singular para as palavras. 

Ora, ilusão é tão diferente de projetar algo e materializar… A ilusão é o engano dos sentidos. É como andar pelo deserto em um dia escaldante de sol e ter a ilusão de que vê um oásis, um lago de águas frescas, e de repente quando lá tocar, perceber que não há água, mas um amontoado de areia quente. Ilusão é uma interpretação errônea de um fato ou uma sensação. Cada pessoa pode dar o sentido que quiser as palavras, a isto se chamada liberdade de expressão, e para quem ouve será um grande exercício alcançar a conexão de quem fala. Ilusão também é um devaneio, um sonho, uma imaginação, a troca da aparência real por uma ideia falsa. 

Temos um detalhe a ser considerado no ato de tomarmos a ilusão como uma ação, ou seja, quando nos deixamos iludir por algo podemos vivemos uma percepção distorcida da realidade, ou quem sabe, um engano. A ilusão de ótica por exemplo, nos faz perceber uma profundidade no espaço que muitas vezes é diferente da realidade factual. E o sonho? O que significa? Sonho: 1. Ter imagens e sons a dormir: sonhar com alguém, algo. 2. Desejar muito: sonhar fazer algo. Também pode ser entendido como devaneio, fantasias. E as significações não acabam aqui. O ato de sonhar se aproxima mais da idéia de projetar algo para se materializar pois tem ligação com o fato de desejar algo, enquanto que na ilusão não desejamos, apenas temos a percepção alterada da realidade. 

E o que vem a ser a realidade? A realidade denomina-se o conjunto de coisas existentes, e as relações que elas mantêm entre si. Ora, este é um conceito amplamente debatido no campo filosófico deste a Grécia clássica. Este assunto não se esgota aqui. Se entrarmos para a abordagem fenomenológica, teremos um verdadeiro convite para uma clarificação sobre o fato de passarmos de uma visão ingênua do mundo para o “puro ver” das coisas, no qual o mundo se revela como “fenômeno”. A realidade, a intencionalidade, a consciência, o transcendental. 

O positivismo deixa-nos confinados em “generalizações empíricas”, e desconhece o quadro de essências acerca dos fatos que investiga. Já a fenomenologia convida-nos a exercer uma reflexividade com rigor e discernimento acerca de essências. Cada ser é singular em suas percepções, em suas ilusões, em seus sonhos, em sua realidade, e o que conta mesmo é poder respeitar e compreender suas formas de expressão, sem cairmos no reducionismo racionalista. Continuação de uma manhã recheada de ideias filosóficas e um delicioso aroma de café.

Texto e fotografia: Mirian Valente

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