A VIDA IMITA A ARTE



A vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida, afirmou Oscar Wilde. O que sei é que tanto a vida quanto a arte me surpreendem! 

Estou na abertura de sentidos, uma evolução crescente que me coloca diante de múltiplas conexões de significados que se entrelaçam com memórias, incertezas, experiências, desejos, delicadezas, descobertas, e que às vezes trazem elementos que não podem ser explicados, mas sentidos, e que às vezes faz a realidade se misturar às fantasias. 

Amo esse movimento da vida! Os encontros que são construídos me fazem conhecer em parte, a dimensão da existência para si e para o outro, aquele que se coloca em relação, em diálogos, em construções que não são apenas subjetivas, mas também materiais, pois se estabelecem a partir da articulação do contato físico, que se amplia para a dimensão emocional e espiritual. 

Refiro-me às construções materiais que se fazem pelos gestos, um sorriso, um olhar, mãos que se tocam e vozes que se propagam e se fazem ouvir, isso é material! O subjetivo fica à disposição dos arranjos internos, ou seja, as interpretações que cada um organiza em si, a partir de seus aspectos singulares ou de seus elementos estruturantes. 

O fato é que estou exposta a situações que me sensibilizam, as histórias de vida das quais participo no acolhimento, a cumplicidade nos silêncios e no ato de rir juntos. A arte me coloca em um lugar interessante! O lugar de suspender o que penso saber, em um recorte de tempo, para me debruçar a partir do que não sei, a pensar sobre o que está sendo tecido como expressão, como linguagem, seja em textos, peças de teatro, músicas, coreografias, esculturas, pinturas e filmes. 

Assim a linguagem se faz presente no fazer artístico e no encontro com o outro que comunica. A linguagem é formada de signos, afirmou Saussure. Lacan afirmou que o inconsciente é uma linguagem. Ora, sem me aprofundar em teorias, o que estou a pensar é que existem metáforas no ato da comunicação que se apresenta para cada um de nós. 

Assim sendo, me coloquei a compreender a linguagem das relações com o outro, da arte a que estou exposta em cada tempo. Apreciei o filme Una Giornata Particolare, Direção de Ettore Scola, com Loren e Mastroianni, que me chegou às mãos, através de presença significativa que me acompanha em interlocuções sensíveis e poéticas. 

Ah! As interlocuções que nos tornam ainda melhores! São como borboletas coloridas em meu jardim! Pois bem, a obra é de uma beleza singular, pois comunica aspectos tão delicados da existência humana, dos encantamentos, dos estranhamentos, do silêncio e dos risos, dos gestos excêntricos, do encontro e do desencontro, da eloquência de olhares que se falam na ausência de qualquer som, do reconhecimento das fragilidades e das possibilidades, da solidão e da cumplicidade nas fronteiras desta solidão. 

Ah! a compreensão, o amor, a surpresa! “Encontrá-la, conhecê-la, falar-lhe, passar o dia com você foi muito importante pra mim!” Esta é a arte! Enquanto os contextos complexos, inóspitos, inflexíveis talvez, se fazem história, outras histórias se reescrevem, se inscrevem no acontecer das mãos que se aproximam, dos corações que se compreendem! 

Tal riqueza é entrar em contato, ouvir o outro e se fazer ouvir para o outro sem estranhezas! Metáforas de um dia muito especial! O que foi ontem, o que foi há poucos instantes, o que é agora! Realmente a vida que imita a arte!

Texto: Mirian Lopes



Comentários

  1. A arte é construído em cada gota de chuva que cai do céu, como em cada pincelada que lhe dá o pintor

    parabéns

    Robert

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