DESPERTAR





DESPERTAR

Estava adormecida. Talvez em um castelo encantando construído por ela ou que fora construído para ela. Não importa, mas é fato, dormia. De repente despertou-se do sono. Ao abrir os olhos se deparou com um mundo novo, cheio de contradições, de perigos, mistérios, mas, extremamente excitante, atraente, que a fez desejar pela descoberta.

Sei lá quanto tempo estava a dormir. Mas, o que é mesmo o tempo? É tão relativo. Podemos estar aqui a falar com alguém do outro lado do mundo em um mesmo instante, a ser dia aqui, a ser noite lá. Podemos experimentar a estranheza de um dèjá vu. Eis o grande mistério! O tempo da experiência é diferente do tempo das estações, dos fusos horários, ou seja, da linearidade. Está nesta dimensão, e quão confortável é estabelecer outra relação com o tempo.

Levantou-se. Olhou no espelho. Viu sua face projetada ali. Parte da representação de si, a consciência dos seus contornos presentes e disponíveis para sua compreensão. Porém, havia outra parte de si não projetada naquela superfície, ainda por ser revelada.

A parte oculta para ela, enigmática, começava a se desvelar através de outro olhar, o qual estava a desenhá-la, a indicar-lhe toda a extensão. Isto a fez lembrar de uma declaração sagrada: “Agora, pois, vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho; mas então, veremos face a face. Agora conheço em parte; então, conhecerei plenamente, da mesma forma como sou plenamente conhecido”. (1 Coríntios 13:12). Os olhos são como espelhos, quando me vês, te vês em mim. Quando te vejo, me vejo em ti. Concluiu.

Este despertar tirou-a das sombras, levou-a para a luz. A luz de um novo saber, de um reconhecimento profundo, a dimensão de quem é no instante em que estava a ver. E a fez sentir um vento marítimo que tocou sua face, e envolveu seu corpo. E estava a lhe falar: - quero provocar algo novo em tua vida. Abanar você. Fazer te sair de dentro de ti, pois se tu queres algo, terás - . Este vento impetuoso, a sacudir-lhe, retirou-a de um profundo sono.

Sobre o Vento devo contar seu sentido. Está dentro dela, a compreensão: “O vento sopra onde quer. Você o escuta, mas não pode dizer de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com todos os nascidos do Espírito” (João 3:8). Ele sopra sem parar e esta a levá-la para outra direção, nova visão. Está desperta e a bailar em seu frescor!


Texto: Mirian Lopes
Ilustração: Anouk Lacasse

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