BELO TEXTO DE HERSON CAPRI
06 Agosto 2011
Alec Baldwin e Meryl Streep no filme Simplesmente Complicado (2009).
Ele a tinha largado para casar com uma mais novinha, mas... |
De uns tempos para cá, tenho sido perguntado, em entrevistas, por causa da novela, sobre o que acho da relação de homens mais velhos com mulheres mais novas. É difícil responder. Na primeira vez, improvisei, porque nunca tinha parado para pensar nisso. Falei qualquer coisa, acho que questionei o tipo de papo que poderia acontecer entre uma garota e um senhor, que poderia acabar numa conversa paternal, e, se fosse assim, não teria nada a ver. Como perguntaram novamente outras vezes, tive que começar a pensar nisso, até que LOLA me pediu para escrever sobre o assunto. Aí a coisa ficou séria, porque seria a primeira vez na vida que eu iria escrever alguma coisa para ser publicada. E sobre mulheres! Logo eu que estou no meu terceiro casamento há 16 anos. No segundo, foram 15 anos. Com mais um do primeiro, ao todo dá 32 anos de casado. Não sou a pessoas mais indicada para escrever sobre mulheres, porque minha pouca experiência não me credencia. Mas vamos lá.
Não há dúvida que a mulher jovem traz consigo, junto com o frescor da mocidade, um lindo brilho deslumbrado dos olhos, a pele lisa e esticada, a musculatura firme, o jeito brejeiro e, às vezes, dependendo da idade, uma inocência de menina escondida atrás da vontade de já ser mulher. Algumas têm um andar arrogante, o nariz empinado, como se dissessem "Eu sou maravilhosa e não estou nem aí pra você", com passadas pretensiosas. Na mulher nova, o feminino está desabrochando, a vaidade já está funcionando a todo o vapor, os olhares masculinos ao corpo delas lhes dão uma forte sensação de poder, e elas acham que podem abraçar o mundo. E realmente podem, porque o mundo é dos jovens, não é o que se diz? Afinal, as propagandas são protagonizadas por jovens, as novelas também, os filmes, a poesia, a literatura, e mesmo no teatro, apesar de ser uma arte milenar, são eles, os mais novos, que atraem mais público.
Imagino que na relação de um homem maduro com uma moça a conversa seja interessante. Ele sorvendo os pensamentos ingênuos e os entusiasmo juvenil dela, ela absorvendo dele as sabedorias do tempo vivido. Ela talvez tenha o raciocínio parecido com o seu corpo: liso, esticado e firme. E ele talvez já esteja um pouco enrugado, no corpo e no raciocínio. Não deixa de ser interessante. Claro, há sempre o risco de se tornar um papo chatíssimo para ambos. A distância de gerações, as inevitáveis diferenças de expectativas e de objetivos são complicadores. Mas também, por outro lado, os oposto se atraem. E, na hora das carícias finais, ela estará insegura, mas fingindo uma segurança absoluta, fazendo de conta que sabe tudo e mais um pouco, e isso pode ser bem divertido. Enfim, há vantagens e desvantagens em ter uma relação com uma mulher muito mais jovem.
Mas, e a mulher mais madura, a de 40, 50 anos? Comecei a raciocinar sobre elas, desatei a pensar na mulher de meia-idade, aquela por quem a gente sente um misto de atração e respeito, tesão e admiração, um impulso de abraçare beijar e ao mesmo tempo uma vontade de bater um bom e longo papo, e que suscita a esperança de termos achado a mulher de nossa vida. Aquela do pileque e da transa inesquecíveis. Essa já não tem a pele tão jovem, e isso lhe confere uma textura macia e delicada de tal forma que as possibilidades se ampliam. A musculatura dela já não é mais tão firme, e por isso mesmo é mais agradável ao toque, porque é mais feminino. O músculo rijo é uma coisa meio masculina, pois não? O seio não está mais empinado como ela própria gostaria, e há sempre uma estria aqui e ali, sinais de vivência, de mulher que passou por todas as etapas do processo, do prazer à maternidade. Sinais de tempo de vida, de experiência, de quilometragem. Que bom! Os tempos não estão para preconceitos. Ao contrário, são de tolerância e acolhimento. Uma mulher não perde a feminilidade nem a delicadeza pela quantidade de homens com que se relacionou, até pelo contrário.
Uma mulher madura olha para o homem sem aquele deslumbramento juvenil. Mas que olhar!
Atravessa a gente feito um par de flechas. Um olhar que promete e provavelmente cumpre, que não apenas enxerga, vai muito além, faz uma prospecção profunda. Seu andar é épico, é mais que um poema, como disse o poeta, e cada passo é um verso que rima com o outro, e com o outro... A vaidade e o feminino estão firmes e sob controle. O papo já começa com alguma intimidade sem que se saiba exatamente por quê. É conversa boa, consistente, cheia de silêncios gritados e etapas superadas. A cumplicidade é generosa, a discordância é afrodisíaca e as diferenças existem, graças a Deus.
James Mason e Sue Lyon em Lolita (1962).
Na mulher nova, o feminino está desabrochando |
E a transa, ah a transa! É passo a passo, inexorável, intensa, sentida, gostosa, o tempo agora é um amigo fiel, para o lento ou para o rápido, e objetivo não é mais um só, são tantos! E, entre tantos, a mulher mais velha definitivamente sabe o que quer, para si e para o parceiro. Ela é seletiva, ela não quer ser mais paquerada simplesmente, quer ser desejada, não quer apenas ficar, quer se envolver. E sua beleza é peculiar, só dela, só dessa idade. Quando está de bem com a vida, é tolerante e acolhedora, eterna precursora dos novos tempos. Não raro, a maternidade preencheu nela uma sabedoria afetiva inigualável, solidária, que supera qualquer filosofia ou religião. Ela tem jogo de cintura. É a mulher de verdade contemporânea, muito melhor que a Amélia do Mário Lago e do Ataulfo Alves, que era submissa e não tinha vaidade nenhuma. Além disso, a Amélia é de outros tempos. Hoje, as cicatrizes são uma necessidade porque os tempos são outros, e não há nada mais carinhoso, romântico e sensual do que beijar uma cicatriz da mulher amada, aquela que está com você e não abre, que é parceira, cúmplice, amiga, protetora e protegida, amante. A mulher madura. Uma mulher que compreende as diferenças e sabe que o importante mesmo é chegar junto.
Mas a mulher é fundamental em qualquer idade. A essência feminina carrega a doçura, a complacência e um entendimento do outro que nenhum homem tem. Que nos dera a humanidade tivesse sido comandada pelas mulheres desde sempre. Quem sabe assim o mundo todo já seria como um só, como imaginou John Lennon. Talvez até o coletivo já tivesse alcançado a mesma importância que se dá ao indivíduo, o devaneio de Marx. Ou estaríamos, finalmente, amando uns aos outros, como deveria ser.
Foi isso que eu pensei sobre as mulheres. Não existe nada mais livre do que o pensamento - e eu viajei no meu. Escrevi o que penso. Descobri que colocar no papel o que se passa na cabeça da gente dá um trabalho danado. Fico imaginando a loucura que é ter que escrever uma crônica, um artigo ou uma matéria todos os dias. Como seria? Parece impossível. Mas também seria uma loucura para um escritor, ou jornalista, ter que fazer, de repente, como ator, 18 cenas de novela num mesmo dia. Ou ter que interpretar um personagem no teatro, com bastante texto, na estréia da peça. Seria a minha vingança! Até a próxima.
Quando a maioria dos homens puder entender isso, o mundo será um lugar maravilhoso para se viver...
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