CHÃO DE PEDRAS



CHÃO DE PEDRAS


Certa vez, um menino nascido há mais de cinquenta anos, resolveu escrever uma carta para um anjo que amava falar sobre a beleza e os detalhes da vida. Ele, o menino, não sabia, mas, queria ser anjo! Queria se libertar. Pensava que os olhos ao longe não o viam. Ah! Que engano!

Queria asas, mas não podia voar. Estava preso ao chão de pedras, mergulhado em sua dor e em sua solidão, que para amenizá-los, distribuía a seu bel prazer, um pouco do que acreditava ser a sua sabedoria, “seus conselhos de amigo” para quem de fato se servissem deles.

Ele também não percebia que estava a projetar para fora de si e aleatoriamente, o reflexo de sua alma ferida, enquanto distribuía suas benditas palavras! Talvez estava a buscar um pouco de afeto!

O menino também não sabia lidar com sua angústia e se amargava em sua ausência de felicidade. Esqueceu-se de seu próprio rosto, esqueceu-se de sua capacidade de amar a si próprio e de permitir-se ser feliz consigo próprio, sem lançar mão do azeite, para azeitar o mundo à sua volta, como acreditava fazer em sua obtusa imaginação, para ter quem sabe um pouquinho de alegria efêmera! Talvez se compreendesse seus sentimentos e seu mundo, viria a ser o que desejava!

O anjo consternado, leu a carta do menino e falou para a alma dele, o que precisava compreender: que cada ser é singular em sua existência; e que sua alma não se mede por seus títulos, mas, é constituída por suas experiências, por seus valores, suas crenças e seu caráter. Somente a ele cabia abdicar-se de sua vaidade, e decidir e escolher ser autêntico, liberto de amarguras, de julgamentos, pedras e correntes. Ser, simplesmente sem interferências alheias.

O anjo falou com esperança de que um dia, aquele pequeno menino viesse a evoluir e a crescer, e ao crescer se desprendesse do chão de pedras que o impedia de voar livre, com asas, assim como um anjo.

Texto e fotografia: Mirian Valente

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